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Estadão: Oncologia de precisão cada vez mais próxima 

A pandemia provocada pela Covid-19 reacendeu o debate sobre a importância dos investimentos em pesquisas. A descoberta de uma vacina para combater o novo coronavírus é um desses casos de urgência da comunidade científica. Essa corrida não é a única dos pesquisadores. Eles têm se dedicado a descobertas da cura de outros males que afetam a população. As próximas décadas, por exemplo, devem ser marcadas por avanços importantes para a humanidade em várias frentes, como as novas técnicas para o tratamento de tumores cancerígenos.
 
O envelhecimento da população mundial, inclusive a brasileira, vai contribuir para o aumento da incidência e a mortalidade de câncer na população. Hoje, a doença já causa um grande impacto na saúde pública em todas as nações e, com seu avanço, deve trazer ainda maior atenção por parte de todos os envolvidos no atendimento desses pacientes. Para o triênio 2020-2022, as estimativas brasileiras apontam o registro de 625 mil novos casos de câncer no período, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma.
 
A oncologia de precisão é uma dessas vertentes de estudos que já oferece respostas significativas para a saúde de milhares de pacientes ao redor do mundo. Os pesquisadores e especialistas encontraram nas terapias genéticas, que atuam nas mutações dos genes das células defeituosas para eliminá-las, uma técnica complementar aos métodos tradicionais – quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. O Brasil segue a tendência mundial na busca do tratamento contra o câncer e estudos pioneiros, como os iniciados na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vão sequenciar o código genético de pessoas não fumantes acometidas por câncer de pulmão. A proposta da pesquisa é identificar os fatores de risco dessa população e apontar os tratamentos mais adequados para muitos casos da doença, com medicamentos que ofereçam maior poder de precisão e menores efeitos colaterais. Denominados de terapias-alvo, esses tratamentos atuam diretamente nas moléculas indispensáveis para as atividades das células cancerígenas, freando a sua expansão.
 
Um outro método de tratamento aplicado com bastante êxito é a imunoterapia. A técnica estimula as próprias células de defesa contra o câncer. A escolha do melhor procedimento depende de uma avaliação minuciosa da saúde de cada paciente, realizada por meio de exames clínicos, entre outros processos.
  
O método estimula o sistema imunológico no combate às células cancerígenas, bloqueando as engrenagens que elas usam para enganar as defesas com a liberação de proteínas, que se encaixam em receptores dos linfócitos T. Com a técnica, eles identificam e ordenam que outras células destruam os patógenos, que são agentes infecciosos.
 
Um outro novo método promove o tratamento com as chamadas células CAR-T.  Os cientistas fazem a modificação genética em laboratório dos linfócitos T, estimulando o desenvolvimento que vai reconhecer as células tumorais e são reintroduzidas no paciente. A dificuldade do tratamento é identificar as alterações precisas que permitam ser aplicadas como alvos, pois o câncer é uma doença multifatorial e de mecanismos moleculares complexos, que se relacionam entre si para manter a célula maligna atuante.
 
Todas essas descobertas vem ampliando as possibilidades de tratamento dos tumores cancerígenos, e devem avançar ainda mais nas próximas décadas. Entre outras vantagens, reduzem significativamente os efeitos colaterais dos métodos tradicionais, como a quimioterapia. O sucesso dessas novas técnicas já permite vislumbrar, num horizonte de curto e médio prazos, a abordagem do câncer como uma doença crônica, mas ao mesmo tempo controlável quando bem acompanhada, assim como hoje ocorre com a hipertensão ou a diabetes. O empenho científico mostra que as respostas para nossas enfermidades são tangíveis e a cura pode ser apenas uma questão de tempo.
 
(*) Ramon Andrade de Mello, médico oncologista, professor da disciplina de oncologia clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), da Uninove (Universidade Nove de Julho) e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve (Portugal). 

Artigo original reproduzido no Jornal O Estado de São Paulo.

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